quinta-feira, 27 de outubro de 2016




Existem várias discussões sobre ensino e filosofia e se tornaram mais frequentes desde que o ensino de filosofia se tornou obrigatório no ensino médio. De início a impressão que temos é que ensino e filosofia são coisas distintas. É impossível dissociar ensino e filosofia, é até concebível o ensino sem a filosofia, mas não o contrário. É inerente ao filosofar a necessidade de uma transmissão e sempre foi assim, mas nos perguntamos: se é próprio da filosofia passar conhecimento como então se atribui aos gregos o “início” da filosofia? Ou esse conhecimento filosófico dos gregos foi aprendido ou realmente estamos equivocados. Segundo Renato Noguera e a partir de pesquisas de James (2005) Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes e Pitágoras estudaram no egito, inclusive que Pitágoras tenha estudado no egito aproximadamente 22 anos(Noguera,Renato,20014). Porque então justamente nesse momento filosofia e ensino se tornam um problema já que:

“Desde o seu início, a atividade de ensino ou transmissão da filosofia esteve estreitamente ligada ao seu desenvolvimento. Ensinar ou transmitir uma filosofia foi o objetivo originário de diversas escolas filosóficas e também uma ocupação de muitos filósofos.” (Cerletti, 2008). Faz-se parte da natureza da filosofia justamente o ensino então porque essa separação?

O ensino hoje não é uma ampliação de conhecimento, “No passado, foi frequente atribuir à filosofia o lugar privilegiado da sabedoria” (Cerletti, 2008). Hoje tudo tem valor, é mercadoria e possui utilidade. O ensino visa a algo específico: mercado de trabalho ou qualquer outra produção. Desde que ensino visa produtividade fere a própria natureza da filosofia. A filosofia não tem uma utilidade de mercado.

“Nessa linha, entende-se que a utilidade é colocar-se a serviço de algo e a filosofia não seria serva de nada, mas determinaria ou julgaria, ela mesma, as próprias finalidades” (Cerletti, 2008)

Não há tempo para a construção do interrogar filosófico, as perguntas tem presa e almejam uma resposta. A filosofia está constantemente em aberto. Não há necessidade de resultados e nem há respostas consensuais. “Há problemas em aberto em todas as disciplinas, mas no caso da filosofia temos muitíssimos mais problemas em abertos do que problemas consensuais” (Murcho, Desidério, 2008) Não queremos dizer que na filosofia não haja possibilidade de respostas, é que essas respostas não fazem parte do senso comum como verdade última e isso por conta do caráter de abertura da filosofia. “ Em qualquer caso, e importante declarar desde já que o caráter aberto da filosofia em nada diminui o seu valor cognitivo ou social, a sua seriedade acadêmica ou escolar, ou a sua importância existencial” (Murcho,Desidério,2008). Abertura para Heidegger sempre remete a possibilidades, por isso não podemos pensar a filosofia como algo específico e já dado em uma única resposta.
Para Desidério Murcho os problemas filosóficos não são resolvidos através de metodologias científicas e nem formais, o que a distingue das demais ciências. A filosofia não é uma ciência empírica por isso “Para tentar resolver os problemas da filosofia os filósofos apresentam teorias – aquilo a que por vezes se chama também teses, ou perspectivas, ou até filosofias.”(Murcho Desidério,2008). Essas teses filosóficas não são ilusórias, são construídas sobre problemáticas surgidas de questionamentos sobre a realidade. E a realidade do ensino de filosofia? Desidério faz uma pergunta interessante: E como se ensina isso?
Algo aberto, livre, sem utilidade, poderíamos com essas poucas palavras “definir” o pensar. Não há como ensinar filosofia descaracterizando-a, como se vem tentando e fracassando. “ Mas como se ensina isso? Do mesmo modo que se ensina a pintar: praticando. O estudante tem de ser estimulado e ajudado a pensar por si nos problemas, teorias e argumentos da filosofia.”(Murcho,Desidério,2008,p.91). Compreender textos não é filosofar, apenas entender e reproduzir a idéia do filósofo. A sua opinião entrelaçada com a do filósofo, dizer algo a partir de outra construção. Filosofia é diálogo e isso deve ser ensinado.

Para isso é necessário uma didática no ensino de filosofia com novas propostas. “O objeto de estudo da didática é o processo de ensino aprendizagem” (Gandau,vera maria,1996,p.13). Segundo Luckesi o educador tem que estar inserido em um contexto, ator e autor de um projeto histórico de um desenvolvimento do povo. O que nos parece nesse momento é que a filosofia está fora do contexto e do momento histórico em que vive o Brasil, como se não houvesse espaço pra ela e o resultado é a possível retirada do ensino médio.

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