Existem
várias discussões sobre ensino e filosofia e se tornaram mais frequentes desde
que o ensino de filosofia se tornou obrigatório no ensino médio. De início a
impressão que temos é que ensino e filosofia são coisas distintas. É impossível
dissociar ensino e filosofia, é até concebível o ensino sem a filosofia, mas
não o contrário. É inerente ao filosofar a necessidade de uma transmissão e
sempre foi assim, mas nos perguntamos: se é próprio da filosofia passar
conhecimento como então se atribui aos gregos o “início” da filosofia? Ou esse
conhecimento filosófico dos gregos foi aprendido ou realmente estamos
equivocados. Segundo Renato Noguera e a partir de pesquisas de James (2005)
Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes e Pitágoras estudaram no egito,
inclusive que Pitágoras tenha estudado no egito aproximadamente 22
anos(Noguera,Renato,20014). Porque então justamente nesse momento filosofia e
ensino se tornam um problema já que:
“Desde o seu início, a atividade de ensino ou
transmissão da filosofia esteve estreitamente ligada ao seu desenvolvimento.
Ensinar ou transmitir uma filosofia foi o objetivo originário de diversas
escolas filosóficas e também uma ocupação de muitos filósofos.” (Cerletti, 2008).
Faz-se parte da natureza da filosofia justamente o ensino então porque essa
separação?
O
ensino hoje não é uma ampliação de conhecimento, “No passado, foi frequente
atribuir à filosofia o lugar privilegiado da sabedoria” (Cerletti, 2008). Hoje
tudo tem valor, é mercadoria e possui utilidade. O ensino visa a algo
específico: mercado de trabalho ou qualquer outra produção. Desde que ensino
visa produtividade fere a própria natureza da filosofia. A filosofia não tem
uma utilidade de mercado.
“Nessa linha, entende-se que a utilidade é
colocar-se a serviço de algo e a filosofia não seria serva de nada, mas
determinaria ou julgaria, ela mesma, as próprias finalidades” (Cerletti, 2008)
Não
há tempo para a construção do interrogar filosófico, as perguntas tem presa e
almejam uma resposta. A filosofia está constantemente em aberto. Não há
necessidade de resultados e nem há respostas consensuais. “Há problemas em
aberto em todas as disciplinas, mas no caso da filosofia temos muitíssimos mais
problemas em abertos do que problemas consensuais” (Murcho, Desidério, 2008)
Não queremos dizer que na filosofia não haja possibilidade de respostas, é que
essas respostas não fazem parte do senso comum como verdade última e isso por conta
do caráter de abertura da filosofia. “ Em qualquer caso, e importante declarar
desde já que o caráter aberto da filosofia em nada diminui o seu valor
cognitivo ou social, a sua seriedade acadêmica ou escolar, ou a sua importância
existencial” (Murcho,Desidério,2008). Abertura para Heidegger sempre remete a
possibilidades, por isso não podemos pensar a filosofia como algo específico e
já dado em uma única resposta.
Para
Desidério Murcho os problemas filosóficos não são resolvidos através de
metodologias científicas e nem formais, o que a distingue das demais ciências.
A filosofia não é uma ciência empírica por isso “Para tentar resolver os
problemas da filosofia os filósofos apresentam teorias – aquilo a que por vezes
se chama também teses, ou perspectivas, ou até filosofias.”(Murcho
Desidério,2008). Essas teses filosóficas não são ilusórias, são construídas
sobre problemáticas surgidas de questionamentos sobre a realidade. E a
realidade do ensino de filosofia? Desidério faz uma pergunta interessante: E como
se ensina isso?
Algo
aberto, livre, sem utilidade, poderíamos com essas poucas palavras “definir” o
pensar. Não há como ensinar filosofia descaracterizando-a, como se vem tentando
e fracassando. “ Mas como se ensina isso? Do mesmo modo que se ensina a pintar:
praticando. O estudante tem de ser estimulado e ajudado a pensar por si nos
problemas, teorias e argumentos da filosofia.”(Murcho,Desidério,2008,p.91).
Compreender textos não é filosofar, apenas entender e reproduzir a idéia do
filósofo. A sua opinião entrelaçada com a do filósofo, dizer algo a partir de
outra construção. Filosofia é diálogo e isso deve ser ensinado.
Para
isso é necessário uma didática no ensino de filosofia com novas propostas. “O
objeto de estudo da didática é o processo de ensino aprendizagem” (Gandau,vera
maria,1996,p.13). Segundo Luckesi o educador tem que estar inserido em um
contexto, ator e autor de um projeto histórico de um desenvolvimento do povo. O
que nos parece nesse momento é que a filosofia está fora do contexto e do
momento histórico em que vive o Brasil, como se não houvesse espaço pra ela e o
resultado é a possível retirada do ensino médio.
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